QUELÉ E SUAS TRÊS MULHERES
Clementino nasceu num sítio em Coqueiro Seco, bela e bucólica cidade à
beira da lagoa Manguaba. Menino ainda já tinha vocação para mulheres. Na
juventude tornou-se conquistador, o rei das niquimbas ( assim chamavam
maldosamente as empregadas domésticas naquela época), daí seu apelido Quelé das
Niquimbas. Conseguiu se formar em Direito, figura popular e bem humorada na
capital e em sua cidade, repreendia quando algum amigo o chamava de Dr. Quelé
das Niquimbas. Corrigia com um apelo.
- Me chame, Quelé das Niquimbas ou
Dr. Clementino Lima. Não desmoralize meu título de bacharel!
Casou-se cedo, engravidou uma
prima, costumava dizer, priminha não é irmãzinha, terminou no altar com Margarida,
uma mimosa flor da cidade de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, hoje
Marechal Deodoro. Quelé nunca se acostumou com a vida de casado, sua vida era
de bar em bar pelas ruas da cidade, até que foi encontrando novos amores
durante a vida.
Um
deputado arranjou-lhe uma sinecura na Assembléia Legislativa, aparecia algumas
vezes na semana para bater papo, rever amigos, se gabava de ter arranjado 280
votos para o deputado em Coqueiro Seco. Os votos obtidos pelo deputado na
cidade, ele contabilizava como se fossem todos por ele arranjados. Um dia apareceu
uma menina bonita, vinda do sertão, fora desvirginada por um outro deputado,
comprou o silêncio com um emprego na Assembléia. Quelé namorou Rosa, a rainha
do sertão, como ele a apelidou. Numa bela tarde, Rosinha lhe informou, estava
grávida. O jeito foi assumir o filho. Rosa ganhou uma casa da COHAB do
deputado, onde até hoje vive, dividindo o marido com Margarida. Quelé tem o
afeto do menino. Na certidão do jovem consta filho de Clementino Lima,
entretanto, a maldade humana acha o menino a cara do deputado. Quelé é homem
moderno, não importa certas picuinhas, ama o menino, seu filho do coração. Do
lado de Margarida são duas moças bonitas. Rosa e Margarida não se frequentam,
se aceitam como duas flores com espinhos. Os meninos meios irmãos se dão bem
quando se encontram.
Durante a última eleição em Coqueiro Seco,
Quelé foi enviado pelo deputado para ajudar na campanha, tarefa feita com
satisfação, terminava as noitadas raparigando. Acontece que uma jovem,
Hortência, quase da idade de suas filhas, 17 aninhos, encantou nosso Casanova.
A moça bonita dava alguma bola, mas quando chegava nos finalmentes ela
escorregava feito um muçum ensaboado. De tanto insistir, numa noite de lual à beira
da lagoa, despedida da campanha eleitoral, Quelé conseguiu, com promessa de
casamento, uma noite memorável de amor dentro de uma canoa. Nove meses depois
nasceu Manoel Lima, uma adorável criança.
Montou outra casa, a terceira,
consome todo salário de funcionário e de advogado, Quelé vive aperreado de
dinheiro, contudo, não deixa de estar sempre com um sorriso nos lábios e um bom
astral. Trígamo assumido, as filhas de Margarida ajudam Hortência, mãe do recém
nascido para ela comparecer ao emprego, atendente de um médico amigo do deputado.
As coisas iam bem, as três mulheres não complicavam muito a vida do marido
repartido.
Por tudo isso, Clementino resolveu
fazer uma só festa no seu aniversário, reunindo, pela primeira vez, as três
mulheres na casa da primeira. O início do encontro foi formal, depois começaram
a descontrair. Quelé estava felicíssimo com o feito, as três famílias reunidas.
Cerveja, cachaça e uísque entornando. Todas três mulheres empurravam direitinho
um copo, como também o companheiro Quelé. Até que certa hora, quando a cachaça
subiu para cabeça, Margarida perguntou ao marido;
-Está feliz meu amor? Juntando sua esposa
e as duas raparigas?
Rosa quando ouviu o desaforo, falou alto:
rapariga é a mãe! A outra flor, Hortência, não esperou falar, foi puxando os
cabelos de Margarida e arrastando pelo chão, xingando de coroa sambada e que
Quelé gostava mesmo era dela, novinha e cheirosa. A briga generalizou-se entre
as três. Uma dando tapa e puxão de cabelos nas outras. A briga durou quase uma
hora, só acabou quando cansaram, Quelé conseguiu afastá-las. Levou as outras
duas convidadas para suas casas. Nunca mais quis saber de juntar as mulheres. Família
que bebe unida, nem sempre permanece unida.
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