ENCONTROS
COM ARIANO
Carlito Lima e Ariano Suassuna
Sou um privilegiado, conversei, me diverti,
saboreei alguns esparsos encontros com Ariano Suassuna. Certa vez ele veio
à Maceió para dar uma aula sábia e divertida no Centro de Convenções. Antes da
palestra, eu disse ter lido três vezes seu livro, "A Pedra do Reino",
aquele livro havia me tornado mais orgulhoso da literatura nordestina, fez
compreender melhor a vida, o homem nordestino. Auditório cheio, mais de 2.000
pessoas, a aula estava uma delícia, certa hora Ariano confessou, "Tenho
admiração pelos mentirosos e pelos loucos, eles são como escritores, imaginam
histórias para fugir da realidade, o mentiroso, o louco, não aceitam a realidade.
Existe todo tipo de louco, aqui mesmo no auditório tem vários, o Carlito Lima,
por exemplo, leu três vezes meu livro, "A Pedra do Reino", só um
doido pode ler aquele livro três vezes." A plateia às gargalhadas, na saída
o povo me sorria. Eu feliz da vida em ter sido citado na palestra.
Há dois anos fui à Festa Literária de Boqueirão na
Paraíba, estávamos no mesmo hotel à beira de um belo lago, conversei amenidades
nesse fim de semana, ele se divertia com minhas histórias, dois dias agradáveis
no sertão paraibano em boa companhia. Ariano me chamava de "Carcereiro do
Arraes" devido ao fato do governador ter sido preso no quartel onde eu
servia durante o golpe de 64.
Ano passado ele veio à Marechal Deodoro, o SESC aprontava
o documentário, "O Nordeste de Ariano". Ariano fez questão de gravar
o depoimento sobre bandas filarmônicas nordestinas em Marechal Deodoro, na
cidade histórica existem cinco ótimas e antigas bandas, Santa Cecília,103 anos,
Carlos Gomes, 99, Manuel de França, mais de 50. Foi organizado um belíssimo
concerto de dobrado militar em frente ao Convento Santa Maria Madalena, ficamos
extasiados com a tocata. Certo momento Ariano perguntou se eu conhecia a origem
do dobrado, respondi ter noção. Ele esclareceu, "O dobrado militar foi
invenção da guerra, o som, a repetição, a altura do tocar, davam emoção e
coragem aos soldados para se defrontarem com o inimigo, entretanto, se esse
belíssimo dobrado fosse tocado numa guerra, os soldados em vez de atacar, iriam
oferecer flores." Filosofou gaguejando, Ariano.
Ouvi de perto o depoimento, nunca pensei Ariano ser profundo
conhecedor de dobrados e bandas filarmônicas, o documentário deve estar pronto,
é boa hora do SESC passar o filme nas redes de cinema e televisão do Brasil.
Naquele dia era aniversário de Ariano, depois do depoimento,
bela surpresa, as bandas de Marechal tocaram, "Parabéns prá você",
ele se emocionou e emocionou as privilegiadas testemunhas que assistiam a
filmagem do histórico documentário naquele sábado de sol na bela Marechal
Deodoro.
Tenho uma forte admiração pela obra e pelo ser humano, Ariano
Suassuna, suas palestras não eram repetitivas, vários temas, desde construções
de casa de taipa nas pequenas cidades às músicas encantadoras do Nordeste, era
um sábio, intelectual nacionalista, quase xenófobo, não admitia o
estrangeirismo apagar nossa cultura. Dizia, "Prefiro mil vezes nosso Ôxente
que o OK americano." O Brasil real perde o maior defensor de sua cultura
popular. Ficou sua obra, para sempre será lembrado, Ariano Suassuna a única
unanimidade brasileira.
Há cinco anos sou coordenador da Festa Literária de
Marechal Deodoro, em 2014 realizaremos a 5ª FLIMAR entre 12 e 15 de novembro.
Escolhemos sempre, dois escritores homenageados, um vivo outro morto, para
discutirmos sua obra durante o evento. Já estava programado o homenageado vivo em
2015, Ariano Suassuna, e o poeta
alagoano Jorge de Lima, o morto. Agora tudo mudou estaremos discutindo a obra
de Ariano na VI FLIMAR, será o homenageado morto. Nem tanto, é o único imortal
de Academia realmente imortal.
Ariano Suassuna, o maior brasileiro dos séculos XX e XXI.
Amante desse Nordeste bendito e benzido pelo padre Cícero, tive o privilégio de
encontrá-lo algumas vezes por esse Brasil à fora.
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